(sem título)

Quando estamos vivos, muito vivos, acontece muito. Acontece de se estar olhando o mar, num lugar onde já se esteve muitas vezes, e o mar estar como nunca. Acontece de olhar um rosto, ficar, percebendo os detalhes e as mudanças na expressão e ver aos poucos o rosto tornar-se a parede branca da sala de jantar. Será que é isso que se chama saudade? Também pode acontecer de nos esquecermos de olhar o relógio dias a fio, que poderiam ser horas ou meses - isso muda muito se olhamos de dentro ou de depois. Nessas ocasiões acontecem as descobertas, daquelas em que o que menos nos ocupa é o sentido; como a do som que faz o grilo, num dia de chuva, e se é criança. Se nos ocupamos do sentido, criamos sempre a mentira de que não há novidade, inventamos que já conhecíamos o som do grilo, e a chuva é banal.


04/01/2001
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