(sem título)
Da madrugada esparsa cai a gota
Do alto do edifício
em que mora meu mestre
uma folha se lança
Um branco imenso
para olhos tensos
Uma criança agonizante chora dentro
do poço estreito
onde se encara de frente
a vontade de vingança
O vermelho denso
do coração teso
Um cão de rua se revolta contra o vento
do canto do mundo
que aos sofredores é reverente
mas não pára sua dança
Azul remelento
no rosto de que descendo
A cadeira em frente tráz de volta
do defunto mais antigo
em passo e peso
a memória da leveza
O amarelo fosco
um algodão fedorento
Em alguma esquina o bêbado sente
do metal a frieza
do poste que pende
mas poderia ser dela
De preto, elegante
um homem decente
A folha não pesa, mas leva preso
em chão refeito
da poesia mansa
o colorido defeito
contar tudo
pelo meio
14/11/2002